Ignorar o fenómeno chamado "Tsunami da Prata" é estar à margem de uma discussão global que diz respeito à maioria dos países desenvolvidos. As mudanças demográficas que a população está a sofrer irão gerar desafios económicos e sociais que exigem que nos preparemos hoje para assegurar o bem-estar digno dos idosos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que apenas doenças como o Alzheimer e outras demências conduzem a uma despesa de 1% do PIB do planeta.
Apesar da procura constante de fatores genéticos e ambientais que explicam a origem das patologias que nos afetam com a idade, o envelhecimento é ainda sem dúvida o principal fator de risco para o desenvolvimento da maioria das doenças crónicas. O campo da Gerosciência surgiu recentemente como uma nova disciplina que procura compreender como a biologia subjacente ao envelhecimento explica o desenvolvimento das doenças que o acompanham. A gerosciência reconhece que a qualidade do nosso envelhecimento biológico está intrinsecamente relacionada com múltiplas dimensões das nossas vidas. A sua compreensão envolve disciplinas tais como sociologia, psicologia, economia, educação, e nutrição, entre outras. A gerosciência visa aumentar a nossa esperança de vida saudável e ativa, o que está a revolucionar conceptualmente a medicina. Espera-se uma abordagem da saúde centrada na prevenção, olhando para a nossa existência como um continuum em que o estilo de vida e os fatores que nos afetam quando somos jovens determinarão a qualidade do nosso envelhecimento.
Os estudos desenvolvidos neste campo permitiram-nos compreender cientificamente o envelhecimento, e levaram a um aumento do período de vida saudável nos animais através de intervenções que atacam aquilo a que hoje chamamos "os pilares biológicos do envelhecimento". Estas estratégias terapêuticas conseguiram reduzir o risco e a gravidade de múltiplas doenças em modelos experimentais com o mesmo medicamento. Por exemplo, os senolíticos, moléculas que removem selectivamente as células envelhecidas do corpo, melhoram as capacidades físicas e cognitivas naturalmente perdidas em animais mais velhos. Este ano, UNITY está a testar senolíticos em ensaios clínicos em humanos. Empresas como a Google identificaram as oportunidades envolvidas e decidiram investir biliões de dólares para gerar a Calico, uma empresa de biotecnologia que procura gerar novos medicamentos que aumentarão a nossa expectativa de saúde.
O aumento da esperança de vida da população, somado à possibilidade muito próxima de intervir no decurso do envelhecimento, levanta questões fundamentais que devemos incorporar no debate público. Devemos olhar para a velhice como uma oportunidade, como a possibilidade de nos reinventarmos, um palco em que a sabedoria adquirida através da experiência desempenha um papel central na sociedade.
Fonte: A Tercera