O trabalho voluntário destaca alguns dos valores fundamentais das sociedades ocidentais modernas, como a solidariedade, a justiça e a democracia. É a participação cívica na sua forma mais pura. Este breve documento reflete sobre as possibilidades de promover o trabalho voluntário numa perspetiva de ciclo de vida, com especial atenção aos idosos, e com ênfase na situação em Espanha e Portugal. Conclui com algumas notas metodológicas sobre a difícil medição do voluntariado, um fenómeno de natureza multifacetada.
O trabalho voluntário destaca alguns dos valores fundamentais das sociedades ocidentais modernas, como a solidariedade, a justiça e a democracia. É a participação cívica na sua forma mais pura. Saúde, educação, cultura e proteção ambiental são apenas algumas das diversas causas para as quais os trabalhadores voluntários se envolvem. Em geral, não há dúvida de que um setor voluntário desenvolvido é algo socialmente desejável para qualquer comunidade sócio-política.
O trabalho voluntário destaca alguns dos valores fundamentais das sociedades ocidentais modernas, como a solidariedade, a justiça e a democracia. É a participação cívica na sua forma mais pura
Embora não disponhamos de dados precisos sobre o valor económico produzido, não há dúvida de que o setor do voluntariado também contribui consideravelmente para o PIB. Por todas estas razões, o ano de 2011 foi declarado "Ano Europeu do Voluntariado" por iniciativa do Parlamento Europeu, a fim de dar maior visibilidade e apoio ao trabalho voluntário. Este breve documento reflete sobre as possibilidades de promover o trabalho voluntário numa perspetiva de ciclo de vida, com especial atenção aos idosos, e com ênfase na situação em Espanha e Portugal.
Embora não estejam disponíveis dados precisos sobre o valor económico produzido, não há dúvida de que o setor do voluntariado também contribui consideravelmente para o PIB.
Os voluntários são frequentemente motivados por um sentido de dever moral e uma identificação normativa com a causa em questão. Este nobre altruísmo e a vontade de contribuir para a coesão da comunidade em que vivem devem ser pontos de destaque nas campanhas de recrutamento1. Ao mesmo tempo, há outros motivos que podem ser invocados para atrair novos voluntários. Estudos mostram que a participação em trabalho voluntário é benéfica a longo prazo em termos de emprego e salários (Wilson&Musick 2003).
A participação em trabalho voluntário é benéfica a longo prazo em termos de emprego e salários
O voluntariado facilita o estabelecimento de novos contactos e a aquisição de novas competências e aumenta assim o capital social e humano dos voluntários. O facto de o voluntariado ser valorizado no mercado de trabalho é pouco conhecido e pode ser explorado para atrair mais voluntários.
O voluntariado facilita o estabelecimento de novos contactos e a aquisição de novas competências e aumenta assim o capital social e humano dos voluntários.
Contudo, existem também barreiras à promoção do voluntariado, entre as quais se destaca a disponibilidade de tempo. É frequentemente a primeira coisa que as pessoas mencionam quando questionadas sobre as suas razões para não serem voluntárias. De facto, se se distinguir por estatuto laboral, as pessoas mais ativas no voluntariado tendem a ser trabalhadores a tempo parcial2. Por esta razão, talvez horários de trabalho longos e horários de trabalho divididos sejam um fator importante para explicar as baixas taxas de participação em Espanha e Portugal. De acordo com os dados do Eurobarómetro, ambos os países estão na base da União Europeia em termos da percentagem de pessoas que são voluntárias pelo menos ocasionalmente, com 15 e 12%, respetivamente, em comparação com a média europeia de 24%, e em forte contraste com países como a Holanda e a Dinamarca, onde aproximadamente cada segunda pessoa é voluntariamente ativa (Parlamento Europeu 2012)3.
Segundo dados do Eurobarómetro, as taxas de participação em Espanha e Portugal colocam ambos os países na base da União Europeia em termos da percentagem de pessoas que fazem trabalho voluntário, pelo menos ocasionalmente, com 15% e 12%, respetivamente, em comparação com a média europeia de 24%.
Outra descoberta chave na literatura é que a participação em trabalho voluntário tem um importante elemento de inércia e rotina (Lancee & Radl 2014). Com tudo isto em mente, faz sentido concentrar os esforços de recrutamento para o voluntariado nos jovens, que estão abertos a novas experiências, e nos reformados, que têm uma maior disponibilidade de tempo. Isto é exatamente o que a campanha chamada "Dale color al mundo" (Dar cor ao mundo), realizada durante o Ano Europeu do Voluntariado em Espanha, tentou fazer4. Em Portugal, o evento especial dedicado ao Ano Europeu consistiu num seminário sobre voluntariado em tempos de crise (Comissão Europeia 2012).
Para a política, o grupo de idosos é de especial interesse não só porque os reformados têm tempo, mas também porque têm níveis de educação cada vez mais elevados (muitas tarefas de voluntariado são exigentes e requerem alguma preparação). A imagem das pessoas mais velhas mudou muito e estas já não são geralmente vistas como frágeis e necessitadas de ajuda, mas capazes de se ajudarem a si próprias (pelo menos até uma certa idade). Não é coincidência que o ano seguinte ao Ano Europeu do Voluntariado, 2012, tenha sido declarado o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo. Infelizmente, a incidência de voluntários mais velhos em Espanha e Portugal não é maior do que a da população em geral. Um estudo baseado em dados do Inquérito sobre Saúde, Envelhecimento e Reforma na Europa afirma que a taxa de participação no trabalho voluntário entre os idosos em Espanha é a mais baixa de todos os países analisados.
A imagem das pessoas mais velhas mudou muito e estas já não são geralmente vistas como frágeis e necessitadas de ajuda, mas como capazes de se ajudarem a si próprias (pelo menos até uma certa idade).
Segundo estes dados, apenas 2,4% dos espanhóis com mais de 50 anos fazem trabalho voluntário, em comparação com 9,6% na média dos dez países da amostra e 20,6% na Holanda, que ocupa o outro extremo da distribuição (Erlinghagen & Hank 2006: 571). Por outras palavras, há muito potencial para aumentar o voluntariado entre as pessoas mais velhas na Península Ibérica. Um estudo longitudinal recente recomenda que se concentre nos reformados recentes, pois estes procuram frequentemente novas atividades para preencher o tempo já não ocupado pelo trabalho remunerado (Tang 2015).
Apenas 2,4% dos espanhóis com mais de 50 anos fazem trabalho voluntário, em comparação com os 20,6% da Holanda.
Um problema notável na investigação do voluntariado é a medição imperfeita do voluntariado em inquéritos padrão. Sendo um fenómeno de natureza multifacetada, é difícil conceber perguntas de questionário que sejam suficientemente amplas e precisas. Uma definição comum do conceito de trabalho voluntário (formal) refere-se a "qualquer atividade institucionalizada não remunerada cujo objetivo seja beneficiar determinados indivíduos, grupos ou organizações" (Wilson 2000: 15).
Um grande problema na investigação do voluntariado é a medição imperfeita do voluntariado em inquéritos padrão. Por conseguinte, é importante melhorar a informação disponível através da produção de dados de qualidade.
Isto pode incluir atividades tão diversas como o acompanhamento dos idosos, trabalho administrativo numa ONG e ciberativismo. O grau de envolvimento é também muito diferente, e não é a mesma coisa realizar uma atividade semanal com a duração de várias horas que ser nada mais do que um membro passivo de uma organização. Neste sentido, é importante distinguir entre o voluntariado e o associativismo. Por exemplo, pode considerar-se que o treinador de uma equipa desportiva infantil está a fazer trabalho voluntário em benefício da sociedade, mas não o jogador amador que apenas realiza exercício físico pessoal. Em muitos países (incluindo Espanha e Portugal), além disso, a igreja com o seu trabalho caritativo continua a desempenhar um papel importante no setor do voluntariado, mas outras das suas atividades não têm este carácter caritativo. Todas estas conceptualizações contribuem para as limitações habituais dos inquéritos (entrevistados em cuja memória tinham sido mais ativos do que era realmente o caso, etc.) que podem enviesar a nossa compreensão do fenómeno. Grandes variações nas taxas de participação em trabalho voluntário surgem como consequência da metodologia utilizada. Por conseguinte, é importante melhorar a informação disponível através da produção de dados de qualidade.
A Comissão Europeia recomenda a implementação do "Manual sobre a medição do trabalho voluntário" publicado pela Organização Internacional do Trabalho sobre a medição do trabalho voluntário em todos os estados membros. O John Hopkins Center for Civil SocietyStudies promove ativamente esta iniciativa com o seu Projeto Global Volunteer Measurement (Haddock 2015). O Instituto Nacional de Estatística português incluiu parte do questionário padrão num inquérito aos agregados familiares. Seria desejável após o fim desta fase-piloto incluir o questionário completo no inquérito às forças de trabalho. Infelizmente, o Instituto Nacional de Estatística espanhol ainda não tomou medidas para alinhar a metodologia do Inquérito às Forças de Trabalho com a norma internacional.
1Em alguns casos pode ser melhor não oferecer nenhuma recompensa financeira a futuros voluntários do que uma quantia simbólica. Estudos económicos demonstraram que pequenas quantidades de incentivos extrínsecos podem mesmo ser prejudiciais e minar a motivação intrínseca das pessoas (referida como "crowdingout").
2Embora os desempregados devam ter ainda mais tempo à sua disposição, eles não têm taxas de participação elevadas, muito pelo contrário.
3 A validade dos dados do inquérito sobre este assunto pode ser questionada. No entanto, de acordo com dados comparáveis de utilização do tempo recolhidos pela Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas, Espanha está também entre os países com as frequências mais baixas de voluntariado, especialmente entre os homens (UNECE 2011).
4Outras iniciativas como a campanha "Valores de Solidariedade" da Comunidade de Madrid concentram-se exclusivamente na promoção do voluntariado entre os jovens.
Referências
CEPE (2011): “Aprovechamiento del potencial del voluntariado”, Informe No. 10 de Políticas sobre el Envejecimiento de la CEPE.Comisión Económica de las Naciones Unidas para Europa. Geneva.
Erlinghagen, Marcel &Karsten Hank (2006): “Theparticipation of olderEuropeans in volunteerwork”, Ageing&Society, vol. 26, 567–584.
European Commission (2012): “Report from the Commission to the European Parlament, the European Council, the European Social and Economic Committee and the Committee of the Regions on the implementation, results and overall assessment of the 2011 European Year of Volunteering”, COM(2012) 781 final. Bruselas.
Haddock, Megan (2015): “Good News and More Good News: The Measurement of Volunteer Activity”, E-IAVE June 2015, Newsletter of the International Association for Volunteer Effort. En línea: https://www.iave.org/iavewp/wp-content/uploads/2015/06/June-E- IAVE.pdf (último acceso: 4 de septiembre 2015).
Lancee, Bram & Jonas Radl (2014): “Volunteering over the Life Course”, Social Forces, vol. 93(2): 833–862.
Wilson, John, and Marc A. Musick (2003) “Doing Well by Doing Good: Volunteering and Occupational Achievement among American Women.” Sociological Quarterly, vol44(3):433–50.
Parlamento Europeo (2012): “Eurobarómetro especial 75.2. Voluntariado y solidaridad
intergeneracional”. TNS Opinion & Social.Bruselas.
Salamon, Lester M. (2011): “Putting Volunteer Work on the Economic Map of the World: Why and how”, Keynote speech, Conference “Europe of Active Citizens”,30 de Septiembre 2011, Warzaw.
Tang, Fengyan (2015): “Retirement Patterns and Their Relationship to Volunteering”, Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly. Published ahead of Print on August 26, 2015.
Wilson, John (2000): “Volunteering.” Annual Review of Sociology, vol. 26: 215–240.
A inclusão social é uma realidade básica no apoio aos direitos fundamentais, não só no contexto da educação formal, mas também no contexto da aprendizagem ao longo da vida. O voluntariado é uma garantia de consolidação e desenvolvimento da inclusão a todos os níveis. Existe uma preocupação profundamente enraizada com os nossos idosos, e que é que à medida que envelhecem dizem sentir-se cada vez mais solitários, razão pela qual estas tarefas de voluntariado são muito enriquecedoras para os idosos e voluntários, uma vez que não só fornecem uma certa companhia, mas também ensinam lições de vida, afeto e respeito entre diferentes gerações.
O voluntariado é uma atividade que está atualmente a ganhar terreno entre a população idosa nas sociedades ocidentais mais desenvolvidas. É um aspeto muito benéfico; os idosos participam em benefício dos outros, mas também experimentam uma melhoria na qualidade de vida através da sua participação ativa na sociedade.
O voluntariado é uma atividade que ocupa atualmente uma parte crescente da população mais velha nas sociedades ocidentais mais desenvolvidas. É um aspeto muito benéfico; os idosos participam em benefício dos outros, mas também experimentam uma melhoria na sua própria qualidade de vida através da sua participação ativa na sociedade
O trabalho voluntário realizado pelos idosos é visto como um instrumento de atividade que gera benefícios tanto para a sociedade como para as partes interessadas. Numerosos estudos nacionais e internacionais mostram que o voluntariado com idosos lhes proporciona uma melhor qualidade de vida, sendo os principais estudos os que destacamos:
- Cutler & Hendricks (2000) concluíram que a participação em associações voluntárias promove o bem-estar e oferece diversas oportunidades de filiação, reconhecimento, compensação e gratificação, proporcionando um efeito protetor.
Os voluntários mais velhos estão muito satisfeitos com o seu trabalho, têm uma boa vontade de viver e têm menos sintomas depressivos do que aqueles que não realizam atividades deste tipo, trazendo sentimentos de utilidade, realização pessoal e auto-respeito
- Bukov, Maas & Lampert (2002) no seu estudo alemão, concluem que os voluntários mais velhos estão muito satisfeitos com o seu trabalho, têm uma boa vontade de viver, e têm menos sintomas depressivos do que aqueles que não são voluntários, trazendo sentimentos de utilidade, auto-realização e auto-respeito.
- Windsor, Anstey & Rodgers (2008) mostraram que os idosos que se voluntariam têm níveis de bem-estar mais elevados em comparação com os idosos que não se voluntariam, concluindo que as atividades de voluntariado são um meio importante de promover a saúde, o bem-estar psicológico e a mortalidade tardia.
Os idosos que realizem voluntariado têm níveis de bem-estar mais elevados em comparação com os idosos que não se voluntariam, de acordo com um estudo que conclui que as atividades de voluntariado são um meio importante de promover a saúde, o bem-estar psicológico e a mortalidade tardia.
- Peñalver (2016) em conjunto com a iniciativa Enred@te, concebida pela Cruz Vermelha, a Fundação Vodafone e a Fundação TECSOS em Espanha mostram resultados positivos, uma vez que lhes parece uma solução muito útil e interessante em situações de solidão, permitindo relacionar-se com os outros e comunicar com eles.
- Sitges, Lorente e Saorín (2018) expõem como os programas de voluntariado universitário espanhol são uma forma de encorajar a participação na sociedade e promover um envelhecimento ativo e saudável, razão pela qual é necessário criar cursos de formação nesta área, tanto para jovens como para idosos.
A participação no voluntariado pode reduzir o stress, uma vez que ajuda a expressar emoções positivas ao facilitar o apoio social e as interações sociais, proporcionando vários recursos sociais e psicológicos que compensam as perdas dos eventos negativos da vida, por conseguinte, a inclusão das pessoas mais velhas em atividades de participação cívica tanto no voluntariado como no serviço ativo promove a geração de novos contactos sociais.
Referências Bibliográficas
Bukov, A., Maas, I., & Lampert. T. (2002). Social participation in very old age: cross-sectional and longitudinal findings from BASE. Berlin Aging Study. J Gerontol B Psychol, 57(6), 510-7.
Cutler, S. J., & Hendricks, J. (2000). Age Differences in Voluntary Association Memberships Fact or Artifact. J Gerontol B Psychol, 55(2), 98-107.
Peñalver, A. (2016). Buenas prácticas del Proyecto Piloto Enred@ te: red social digital para personas mayores y voluntariado de la Cruz Roja Española. Cuadernos de Trabajo Social, 29(2), 201-212.
Sitges, E., Lorente, R., & Saorín, M. J. (2018). Promoción y formación del voluntariado con personas mayores en la universidad española. Revista INFAD de Psicología, 2(2), 99-116.
Windsor, T. D., Anstey, K. J., & Rodgers, B. (2008). Volunteering and psychological well-being among young-old adults: how much is too much? Gerontologist, 48(1), 59-70.