Investigación · 22 Maio 2019

MicroRNAs como biomarcadores diagnósticos da evolução do dano hepático e papel na doença em pacientes idosos

O envelhecimento aumenta o risco de várias doenças hepáticas, incluindo a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e comorbidades associadas. Estimada-se que a prevalência global da DHGNA é de cerca de 24-30% e espera-se que continue a crescer significativamente devido ao aumento da obesidade e outras alterações metabólicas (Younossi et al., 2018). Além disso, o número de pacientes avançam para fases mais graves da doença também está a aumentar, refletindo o envelhecimento da população; somente nos Estados Unidos, a DHGNA já é a segunda indicação mais frequente para transplante hepático, com prevalência de casos de DHGNA que se prevê que aumente para 27 milhões até 2030 (Estes et al., 2018). Paralelamente, aumentam os casos de doença hepática avançada, cirrose e CHC. Não surpreende, portanto, que o peso da DHGNA nos resultados percebidos pelos pacientes e na economia também esteja a aumentar (Younossi et al., 2018). Uma vez que não existe actualmente uma terapia farmacológica aprovada para a DHGNA, os ensaios clínicos e pré-clínicos devem ser transformados e adaptados para responder a esta enorme necessidade não satisfeita.

Infelizmente, esta tem sido uma tarefa difícil devido à natureza assintomática da DHGNA, à sua etiologia e patogénese heterogénea e à ausência de biomarcadores minimamente invasivos da fase da doença, entre outras causas (Filozof et al., 2017).

A biópsia hepática continua a ser o método mais fiável para o diagnóstico da doença, nomeadamente para distinguir entre fases relativamente benignas (esteatose) e fases graves (esteatohepatite não alcoólica (EHNA)). Devido à sua natureza invasiva, o procedimento é particularmente preocupante na população idosa, sendo ansiosamente aguardada a identificação de biomarcadores não invasivos específicos. Nesse sentido, os microRNAs circulantes representam excelentes candidatos, embora precisem ser avaliados em coortes de pacientes bem caracterizados e que se esclareça o seu possível papel funcional no fígado.

Este projeto tem como objetivo abordar vários desses aspectos problemáticos em pacientes idosos; ter ferramentas para diagnosticar pacientes com DHGNA em fases iniciais é extremamente importante, considerando as altas probabilidades de progressão para fases mais graves, incluindo CHC. De facto, outras alterações associadas ao envelhecimento, como as que afetam o sistema imunitário inato do fígado, desempenham um papel significativo na transição da esteatose hepática para DHGNA e na sua progressão para cirrose e CHC (Gong et al., 2017). Neste sentido, a possibilidade de utilizar microRNAs como novos biomarcadores de hepatopatias é particularmente interessante, uma vez que são uma imagem representativa das células parentais hepáticas no momento da sua libertação e mudam imediatamente de acordo com o estado fisiopatológico do fígado (Szabo et al.2017; Afonso et al., 2016). O diagnóstico precoce de tumores hepáticos em pacientes idosos também precisa ser melhorado, assim como a identificação de subgrupos de pacientes com diferentes prognósticos e respostas ao tratamento, o que também poderia ser alcançado pela análise baseada em miRNA. Ao mesmo tempo, é muito importante contar com modelos pré-clínicos sólidos, recapitulando os resultados obtidos nos pacientes, para realizar estudos adequados e identificar possíveis estratégias terapêuticas, que é o objetivo final desta proposta.

Em resumo, neste projeto, serão recompiladas e recolhidas amostras de doentes com mais de 60 anos de doença hepática, em particular doentes idosos com DHGNA (Obj. 1). As amostras de soro serão utilizadas para determinar a expressão de miRNAs circulantes e correlacioná-la com dados clínicos para identificar potenciais biomarcadores da doença (Obj. 2). Para confirmar a especificidade dos biomarcadores para a DHGNA, será realizado um screening dos miRNAs em soros de pacientes mais velhos com CPS, CHC e CCA, e em indivíduos saudáveis. Os miRNAs serão então transferidos para modelos animais de DHGNA (Obj. 3), o que permitirá a seleção do modelo que mais se assemelha ao microRNA humano de DHGNA, e assim validar o seu uso em ensaios pré-clínicos para o desenvolvimento de novos fármacos Nas amostras deste modelo também será investigado o possível papel funcional dos miRNAs identificados para determinar se podem ser possíveis alvos terapêuticos (Obj.4).

No final, a correta identificação e tratamento de pacientes idosos com DHGNA é uma das principais tarefas dos médicos geriátricos e hepatológicos que a OLD-HEPAMARKER pretende abordar através da identificação de biomarcadores da doença e potenciais alvos terapêuticos, gerando assim soluções complementares em torno dessa demanda de saúde pública.

Referências

- Afonso MB, Rodrigues PM, Simão AL, Castro RE. Circulating microRNAs as potential biomarkers in non-alcoholic fatty liver disease and hepatocellular carcinoma. J Clin Med. 2016 Mar 3;5(3).

- Estes C, Razavi H, Loomba R, Younossi Z, Sanyal AJ. Modeling the epidemic of nonalcoholic fatty liver disease demonstrates an exponential increase in burden of disease. Hepatology2018;67:123-133.

- Filozof C, Chow SC, Dimick-Santos L, Chen YF, Williams RN, Goldstein BJ, et al. Clinical endpoints and adaptive clinical trials in precirrhotic nonalcoholic steatohepatitis: Facilitating development approaches for an emerging epidemic. Hepatol Commun 2017; 1: 577-585.

- Gong Z, Tas E, Yakar S, Muzumdar R Hepatic lipid metabolism and non-alcoholic fatty liver disease in aging. Mol Cell Endocrinol. 2017; 455: 115-130.

- Szabo G and Momen-Heravi F. Extracellular vesicles in liver disease and potential as biomarkers and therapeutic targets. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2017; 14: 455-466.

- Younossi Z, Anstee QM, Marietti M, Hardy T, Henry L, Eslam M, et al. Global burden of NAFLD and NASH: trends, predictions, risk factors and prevention. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2018; 15: 11-20.

 

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