· 25 Janeiro 2024
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Bolsa de Madrid

Ter trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho torna as economias mais resistentes e robustas face as crises

Introdução 

A Espanha, tal como muitas outras economias desenvolvidas, enfrenta o desafio do envelhecimento da população. Prevê-se que, em 2050, o número de pessoas com mais de 50 anos represente cerca de metade da população espanhola. É o que afirma o estudo "O impacto da idade no mercado de trabalho e na resiliência das empresas em Espanha", apresentado no dia 25 de janeiro no Palácio da Bolsa, em Madrid, um relatório do CENIE, elaborado pela Oxford Economics, empresa de análise internacional de referência, em colaboração com a Universidade de Salamanca, que analisa a forma como a existência de uma força de trabalho que inclui trabalhadores mais velhos tem uma influência positiva em diferentes resultados económicos das empresas. Um dos principais contributos do relatório é a constatação de que "uma força de trabalho mais velha influenciou positivamente a resiliência económica (vendas, emprego, produtividade e investimento) das empresas espanholas durante a Grande Recessão vivida entre 2008 e 2014", pelo que "promover a participação dos trabalhadores mais velhos na força de trabalho cria economias mais fortes face às crises".

Esta investigação insere-se no projeto "Programa para uma sociedade longeva", uma iniciativa aprovada no âmbito do Programa INTERREG V-A, Espanha-Portugal, 2014-2020, POCTEP, do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

O documento conclui que, no caso de Espanha, as empresas com uma força de trabalho mais velha registaram um aumento das vendas, do emprego, da produtividade e uma taxa mais elevada de investimento líquido durante a Grande Recessão. Tal deve-se ao facto de os trabalhadores mais velhos tenderem a ter mais experiência, conhecimentos e competências, tornando as empresas para as quais trabalham mais produtivas e resistentes as crises.

APRESENTAÇÃO, CONSIDERAÇÕES E CONTEXTO

A apresentação das conclusões do estudo teve lugar no Palácio da Bolsa, em Madrid, e foi aberta por Shruti Singh, economista sénior da Divisão de Competências e Empregabilidade da Direção do Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE, que salientou que "a Espanha é um dos países da OCDE que está a envelhecer rapidamente. Proporcionar mais oportunidades de emprego e investir nos talentos dos trabalhadores mais velhos será fundamental para o sucesso da economia espanhola e para o bem-estar individual. A eliminação dos obstáculos ao emprego, incluindo a discriminação em razão da idade no recrutamento e na formação profissional, e a adoção de uma abordagem ao longo da vida que ajude as pessoas a desenvolverem as suas competências e a manterem-se saudáveis, mesmo quando são mais velhas, serão uma parte crucial da resposta política ao envelhecimento da mão de obra".

Ricardo Rivero Ortega, reitor da Universidade de Salamanca, sublinhou "a importância do relatório para destacar a participação dos trabalhadores mais velhos na economia. Uma prova de que a experiência e o trabalho destas pessoas enriquecem o nosso país, económica e socialmente".

Óscar González Benito, diretor da Fundação Geral da Universidade de Salamanca e professor da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais, e Johanna Neuhoff, directora associada dos serviços de consultoria económica da Oxford Economics for Europe, foram os responsáveis pela apresentação do âmbito e das conclusões do relatório.

A este respeito, Óscar González Benito explicou que "os resultados do estudo ajudam a quebrar os falsos estereótipos que vêem os idosos como um fardo e não como um ativo para os mercados de trabalho; os idosos trazem experiência, solvência e temperança que tornam o tecido empresarial mais resiliente". Johanna Neuhoff afirmou: "A nossa investigação demonstrou que as empresas espanholas com uma força de trabalho ativa de longa duração foram mais resistentes durante a Grande Recessão. Encarar a força de trabalho de longa duração como uma oportunidade e promover ativamente a sua participação no mercado de trabalho pode preparar a economia espanhola para novas crises.”

Olimpia del Águila Cazorla, Directora de Segurança Social e Igualdade da CEOE; Cristina Estévez Navarro, Secretária de Política Institucional e Políticas Territoriais da Comissão Executiva Confederal (UGT-CEC) e Carlos Bravo Fernández, Secretário Confederal de Políticas Públicas e Proteção Social da CCOO, participaram na análise e discussão do estudo.

Olimpia del Águila Cazorla, responsável pelas áreas de Segurança Social e Igualdade da CEOE, sublinhou que "estes relatórios não nos fazem esquecer que há quatro gerações a trabalhar" e que, para "eliminar a falta de proteção que existe", uma das ferramentas é a "mudança cultural". Sobre este assunto, Cristina Estévez Navarro, Secretária para a Política Institucional e Políticas Territoriais da Comissão Executiva Confederal (UGT-CEC), destacou os "desafios colocados pelo envelhecimento" no mercado de trabalho e que "o fundamental é que as empresas queiram ter este talento mais velho" nos seus efectivos.

Carlos Bravo Fernández, Secretário Confederal de Políticas Públicas e Proteção Social da CCOO, afirmou que "o relatório tem ideias interessantes", tais como "insistir na formação" dos trabalhadores seniores e "criar regras para eliminar a discriminação" com base na idade.

Esta mesa de debate e conversa foi moderada por Pablo Antonio Muñoz Gallego, Professor de Economia da Universidade de Salamanca e investigador do CENIE, que propôs que "as empresas e os trabalhadores devem ser activos no aproveitamento das sinergias que se geram nas forças de trabalho intergeracionais. Com uma aposta clara no investimento em formação ao longo da vida ativa, em tecnologia e em planos de desenvolvimento profissional até à idade da reforma. Devemos pedir aos parceiros sociais e às administrações que estabeleçam claramente um quadro de incentivos para facilitar este processo. As sociedades longevas devem ser encorajadas a tornarem-se sociedades prósperas e inovadoras".

RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS DO ESTUDO

O relatório refere que a diminuição da população ativa, combinada com o aumento do número de reformados, poderá abrandar o crescimento económico e sobrecarregar o sistema de pensões. Estes desafios poderão afetar a sociedade no seu conjunto e não apenas os idosos.

O relatório também destaca que a Espanha tem uma baixa taxa de emprego entre as pessoas com 55 anos ou mais, uma situação que será agravada pelo envelhecimento da população. Para colher os benefícios de uma força de trabalho longeva, a Espanha deve adotar medidas urgentes para aumentar a participação dos trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. Estas medidas podem incluir:

  • Repensar o ciclo de trabalho. O relatório sugere que os decisores políticos devem assegurar que os trabalhadores mantenham o seu interesse em trabalhar à medida que envelhecem. Uma opção, explica, poderia ser aumentar a idade da reforma e desencorajar a reforma antecipada. "As autoridades responsáveis em Espanha poderiam considerar o aumento dos custos da reforma antecipada para os empregadores ou a abolição total da reforma antecipada".
  • Melhorar a qualidade e o ambiente de trabalho dos trabalhadores mais velhos. As autoridades responsáveis devem melhorar a qualidade do ambiente de trabalho dos trabalhadores mais velhos, por exemplo, introduzindo regulamentos que visem especificamente proteger os trabalhadores mais velhos através de directrizes de segurança no local de trabalho. Outra medida consistiria em "promover oportunidades de reconversão e formação contínua através de subsídios governamentais a programas de formação para trabalhadores mais velhos, a fim de incentivar os empregadores a desenvolverem esses programas".
  • Melhorar a situação dos trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. Neste ponto, o relatório afirma que os responsáveis políticos devem ter como principal objetivo reduzir o risco de desemprego dos trabalhadores mais velhos, diminuindo a probabilidade de ficarem desempregados e reduzindo a duração provável do desemprego. "Os responsáveis políticos podem ajudar a reduzir a duração prevista do desemprego através da criação de programas ativos de emprego, como os que se centram especialmente em ajudar os trabalhadores desempregados mais velhos a encontrar trabalho mais rapidamente.”
  • Motivar as empresas a contratar e manter os trabalhadores mais velhos. O relatório apela às autoridades para que assegurem não só que os trabalhadores mais velhos queiram continuar a trabalhar, mas também que as empresas estejam dispostas a mantê-los e a contratá-los. As principais iniciativas incluem: eliminar a discriminação com base na idade nos processos de recrutamento, promoção ou retenção; introduzir incentivos financeiros para motivar as empresas a contratar e reter trabalhadores mais velhos; e motivar as empresas a implementar práticas de gestão da idade.

Esta conferência faz parte da série Notas para uma Sociedade da Longevidade, que visa lançar as bases científicas e ser o ponto de partida para futuras investigações do CENIE no âmbito do projeto Novas Sociedades Longevas (Programa INTERREG VI-A, Espanha-Portugal, POCTEP, 2021-2027, do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, FEDER).

 

 

 
 
 
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